terça-feira, 27 de julho de 2010

Eu não sei compor axé, diz Netinho da Bahia

Cantor fala ao R7 sobre o segundo DVD da carreira, A Caixa Mágica

Netinho se inspirou na Disney para seu novo DVD


Ao descer de seu utilitário preto para se encontrar com a reportagem do R7 na temakeria em frente à Igreja de Sant’Ana, no bairro Rio Vermelho, em Salvador, Netinho mostra um ar decidido. O baiano de Santo Antônio de Jesus parece já ter resolvido boa parte dos problemas existenciais que o levaram a dar um tempo na carreira por oito meses. Aos 44 anos, ele já aprendeu a lidar com as benesses e arapucas do sucesso, que chegou a sua vida aos 22 anos, quando ele virou o vocalista da Banda Beijo.

Em agosto, chega às lojas o segundo DVD de sua carreira, A Caixa Mágica. O trabalho, roteirizado e dirigido por ele, tem 22 faixas, entre elas as inéditas Extrapolou, Apertadinho e Erê. Netinho falou sobre o trabalho, a relação com outros músicos baianos e a polêmica com o Fantástico por conta de uma reportagem que abordou sua sexualidade. Leia a entrevista.

R7 – Como surgiu a ideia do DVD A Caixa Mágica?
Netinho – A ideia nasceu na Disney, para onde viajei com minha filha, Bruna, que está com 12 anos. Pela primeira vez, fui naqueles brinquedos de criança e pirei com aquela alegria, que resolvi misturar à música. A música baiana permite esse tipo de alegoria. Somos filhos dos tropicalistas. O show dos Doces Bárbaros [grupo formado por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia nos anos 1970] tinha muitas alegorias.

R7 – Quem participa do DVD?
Netinho – Convidei o cantor Tomate, a Aline Rosa, o Saulo Fernandes e o Jorge Vercillo.

R7 – Por que você fez essa tatuagem [no braço, escrita “Nada como viver”]?
Netinho – Tenho nove tatuagens, todas com temática oriental. A primeira fiz no Recifolia, pouco antes de subir no trio. Tenho um dragão nas costas. Essa eu fiz dois anos e meio atrás.

R7 – Foi depois da parada que você deu na carreira?
Netinho – Há seis anos, vi que estava ficando louco. Parei com tudo para arrumar minha vida toda. E consegui, velho. Fiquei dois anos e oito meses parado, nove meses fora do Brasil. Hoje, trabalho muito, mas também viajo para passear e fico aqui em Salvador com minha filha e família. Antes, fazia 29 shows por mês, fazia um monte de programa de TV no Rio e em São Paulo. Foi fase de muito sucesso, ganhei disco de diamante, mas hoje estou na fase mais tranquila e muito mais feliz do que naquela época.

R7 – Deu para fazer o pé de meia?
Netinho – Sou canceriano e muito seguro nas coisas que faço, tenho o pé no chão. Canceriano sempre tem dinheiro escondido em algum lugar [risos].

R7 – E aquela sua fase de MPB?
Netinho – Eu não sei compor axé. Nunca compus axé. Minhas músicas sempre são voltadas ao pop e à MPB. Aí meu empresário convidou o presidente da EMI Music, que gostou muito do meu trabalho. Cheguei no Faustão vestido de preto, cantando pop. Mas não era aquele Netinho que as pessoas queriam.

R7 – Você fica frustrado?
Netinho – É normal. Não gosto de rótulo, mas não ligo [que me coloquem], não. Faço a música que agrada meus fãs. Não tenho necessidade de lançar minhas músicas. Amo ser intérprete. Mas não sei compor axé. Já tentei várias vezes e não consigo. Axé é tudo a com a, e com e, refrão imediato. Eu admiro quem consegue. Gosto de cantar música bonita. Adoro axé pelo que essa música consegue fazer com as pessoas. Cantar num trio para milhares de pessoas é indescritível. Fazemos pessoas de todas as raças e classes cantarem e dançarem juntas a mesma música.

R7 – Mas tem a corda [que separa quem comprou o abadá do folião pipoca]...
Netinho – A corda não separa nada. Sempre reclamaram que eu cantava mais para quem está fora da corda do que para quem está dentro do bloco. Eu sempre dei atenção especial a essas pessoas.

R7 – Qual a verdade daquela polêmica sua com o Fantástico?
Netinho – A polêmica não começou no Fantástico. Tinha dado uma entrevista para a revista Quem, quando lancei o disco A Praia. Falei sobre vários assuntos, como drogas, Deus e política. Mas aí eles exploraram o tema “Netinho gosta de meninos e meninas”. Agora, aceitei falar no Fantástico, porque era a Renata Ceribelli, que conheço desde os tempos do Vídeo Show. Ela falou que queriam minha opinião sobre o Rick Martin [ter assumido ser homossexual]. Perguntei a ela como seria o perfil da matéria. Ela falou que ia ser uma coisa bacana, bem feita, bem construída, pra cima e não foi. Dei uma entrevista enorme e eles colocaram só duas frases minhas. A maneira como aquilo foi explorado foi muito chata.

R7 – Por que você resolveu falar?
Netinho – Acho que eu, como pessoa pública, posso ajudar muita gente, muito jovem que está infeliz em casa e não pode falar. Por isso, peguei meu blog e botei a íntegra que eu falei para a Renata Ceribelli. Mas isso é normal. Essa relação de mídia e artista é de amor e ódio. Estou falando isso tudo aqui para você e você vai botar o que quiser. Não tem como eu ter o controle. Não tem sentido falar mais nisso agora. Eu já falei e está falado. O recado já está dado. Quem eu queria atingir eu já atingi.

R7 – Você acha que essa discussão sobre sexualidade já deveria estar superada?
Netinho – A Igreja Católica tem um papel fundamental na maneira como as pessoas veem isso. O amor está acima de qualquer coisa: de cor, de sexo e de raça. Mas a igreja tem seus interesses... Vai entender.

R7 – Você é bem forte. Malha muito?
Netinho – Estou há quatro meses sem malhar, mas minha alimentação eu seguro sempre, porque tenho facilidade de engordar. Já faço musculação há quase 15 anos.

R7 – Você é amigo da nova geração do axé?
Netinho – Léo Santana [do Parangolé] é meu amigo e parceiro de musculação na academia. Eu fiz uma parceria com a produtora que cuida dele, a Salvador Produções, neste DVD. A Ivete e o Saulo também são meus amigos. Fiz 44 anos e me sinto com 18. Tenho espírito de criança.

O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Salvador Fest.



Netinho explicou a polêmica em relação à entrevista que deu ao Fantástico - Foto: Dodô Villar/Divulgação

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