Axé Web:Quem é Ernesto de Souza Andrade Júnior?
Netinho:Canceriano típico que ama o que faz e que é plenamente feliz com a sua vida.
AxéWeb:Você está completando 20 anos de carreira. Qual a sensação de ver que mesmo com o surgimento de tantas bandas e cantores novos, você permanece no tão disputado mercado da música baiana?
Netinho:Fico feliz e orgulhoso com isso. Durante toda a minha trajetória precisei ultrapassar obstáculos como por exemplo a troca de “Banda Beijo” para “Netinho” e também a parada de três anos que dei na minha carreira. Apesar disso e de outras coisas eu estou na estrada e produzindo muito. Tenho levado a música baiana para o Brasil e para o mundo sempre com a certeza de que represento muito bem a alegria e a festa do povo baiano. Tudo que fiz na minha carreira durou até hoje e o que faço atualmente também durará pois coloco a qualidade e o bom gosto acima de qualquer coisa em minha arte. Como não ficar feliz com o fato de estar completando 20 anos de carreira e de me sentir nesse momento como no começo, com energia renovada e cheio de projetos a realizar?
AxéWeb:Ainda em 2009 vai haver a gravação do Segundo DVD do Netinho em comemoração aos 20 anos de carreira, quais as novidades e os convidados especiais?
Netinho:A novidade é que, como no meu primeiro DVD, este trabalho é temático e se chama “Netinho e A Caixa Mágica”. Não me refiro à mágica dos mágicos até porque este tipo de mágica foi banalizado até em programas de TV que revelam todos os seus truques. A minha caixa mágica mostrará a mágica da musica, da dança, da performance e do entretenimento. Será um show bastante animado e performático com projeções em painéis de leds, bailarinos e muita luz. Não Irão faltar efeitos especiais dentro e fora do palco, que será transformado numa grande caixa preta, de onde uma realidade diferente irá sair. O show será todo filmado em HD vídeo, o que levará para o DVD todos os detalhes da nossa produção.
Ainda não sei se teremos convidados.
AxéWeb:Conta um pouco de sua trajetória nesses 20 anos de carreira.
Netinho:20 anos não são 20 dias. Muita coisa se passou, muitas histórias, muita luta e grandes vitórias. Não dá para contar muito em poucas linhas. Citaria os 5 primeiros anos da minha carreira no comando da Banda Beijo, quando aprendi muito acerca de palco e de trio elétrico. O primeiro Disco de Ouro, o de Platina e o de Diamante, momentos inesquecíveis. Os três CD’s gravados nos Estados Unidos com músicos americanos. O meu primeiro CD ao vivo, de 1996, que vendeu no Brasil 3.000.000 de cópias. Meu primeiro DVD “Netinho Por Inteiro”, uma linda homenagem a Salvador. Muito mais se passou e está tudo aqui na minha memória e na memória dos meus fãs. E muito ainda está por vir.
AxéWeb:Sabemos que este é assunto encerrado para você, porém não podemos deixar de citar.A polemica sobre “Meninos e meninas”, como influenciou sua carreira e sua vida pessoal?
Netinho:Nada mudou na minha vida. O mundo gira e se modifica com o passar do tempo. Há pessoas mais abertas às transformações do mundo e eu sou uma delas. Acima de tudo, respeito a mim mesmo antes de olhar e observar o que os outros pensam a meu respeito. O que importa prá mim no ser humano é o caráter, a correção e a honestidade. É isso que procuro dentro das pessoas para conhecê-las. Fui muito honesto e falei muitas coisas naquela entrevista, porém, o assunto que rendeu foi o “meninos e meninas”. Me espanta, ainda nos dias de hoje, algumas pessoas desejarem impor de que forma as outros podem sentir prazer. Estas pessoas ou são muito hipócritas ou ainda estão vivendo no século passado. Cada um é cada um. Somos diferentes, unos, e esta é a maior riqueza da raça humana. E, por ser assim, cada um deve fazer da sua vida o que achar melhor sem se importar com o que os outros falam ou pensam. A vida é muito curta para perdermos tempo com isso.
AxéWeb:E hoje, quem ocupa o coração do Netinho?
Netinho:Estou namorando e apaixonado há 7 meses. Sempre fui e continuo sempre discreto em relação a quem está comigo. Não é algo que permito cruzar a fronteira do privado e chegar a público. Só o que posso dizer, e deve ser o que interessa, é que estou muito feliz, tanto no trabalho como no amor. E tudo que estou fazendo no momento é reflexo dessa felicidade.
AxéWeb:Você chegou a declarar que parou de cantar porque estava angustiado e cansado.Como deixou essa angústia tomar conta de você?
Netinho:Foi uma bola de neve. Naquela época eu fui empresariado de uma maneira que não se preocupava em preservar o artista, observar também sua vida pessoal, sua felicidade. Eu trabalhava excessivamente, nunca descansava, as viagens eram intermináveis, e isso tudo num período de muito sucesso. Fazia mais de 25 shows por mês. Isso durou muitos anos e transformou o prazer que eu tinha em viajar e cantar em angústia pois eu praticamente não tinha vida pessoal. Um ano antes de eu resolver dar um tempo, já não queria viajar, me sentia triste e muito infeliz. Eu tinha tudo que o sucesso pode dar a um artista e, ao mesmo temo, me sentia vazio, sem nada!
Hoje eu considero esta pausa que dei em minha carreira importantíssima pois consegui, longe de tudo, analisar a minha trajetória e detectar o que estava acontecendo de errado. Foi fundamental para a felicidade que sinto hoje com tudo. Aprendi muito com isso.
AxéWeb:O que leva a crer que a angústia não voltará?
Netinho: Atualmente eu mesmo dirijo a minha carreira em parceria com Gegê Magalhães. Trabalho muito, mas quando preciso, paro, viajo para descansar, apenas a passeio. Controlo minha agenda e, assim, equilibro a minha vida pessoal e o lado profissional. Este ano eu realizei um desejo de muitos anos. Fui com minha filha para os Estados Unidos e passamos, só os dois, 15 dias na Disney. Uma viagem dessas, por exemplo, carrega as minhas baterias e me traz felicidade pois estive junto a uma pessoa que me ama e que eu amo incondicionalmente.
AxéWeb:Você declarou ter tido experiências com Drogas...
Netinho: Algumas coisas naquela entrevista que dei à revista Quem, não foram escritas exatamente como eu falei.
Venho de uma família tradicional de Santo Antônio de Jesus, altamente ortodoxa em relação à educação e comportamento. Tudo que aprendi no seio familiar é o que faz o meu caráter e as minhas atitudes. Nunca fumei, não aprecio o álcool, nem nunca fui usuário de qualquer tipo de droga. Quando resolvi entrar na vida artística, minha família não enxergou isso com bons olhos. Para eles, ser cantor, ser músico, era sinônimo de entrar num mundo de drogas, violência e vagabundagem. Não os recrimino pois naquela época, os artistas eram vistos dessa forma por muita gente.
Com o tempo, provei a todos eles que o ser humano é que faz o seu ambiente, independente de onde esteja circulando.
Nesses 20 anos eu convivi com tudo. Com o velho “artista tudo pode”; com o liberalismo permissivo do meio; com pessoas drogadas, enfim, vi de tudo. Também experimentei quase de tudo que tive vontade pois sou um curioso, mas sem me envolver com nada. Se eu não tivesse uma convicção firme do que é bom e mal prá mim, se eu não tivesse a cabeça formada pela minha boa criação, eu jamais me arriscaria a provar qualquer coisa dita prejudicial. Penso porém, que devemos viver as coisas para entendê-las como realmente são e não seguir cegamente a opinião das outras pessoas. É claro que, se você não tem uma boa formação familiar, se não está centrado em o que quer para a sua vida, cada experiência dessas pode representar um grande perigo à sua vida.
AxéWeb:Você foi empresário da banda Jheremias, hoje Jammil e uma noites, e a separação não foi amigável. Como aconteceu? Como é a relação de vocês hoje?
Netinho: Antes de mais nada, quero dizer aqui que sou amigo de Manno Goes e de Tuca Fernandes, torço por eles, e não há nada de mal resolvido entre nós. Sou um admirador do Jammil e suas musicas sempre estão presentes no repertório dos meus shows. No meu novo DVD haverá duas musicas de Manno Goes e estou feliz por isso.
Naquela época eu produzia muitos discos e o “Jeremmias Não Bate Corner” era uma das bandas que trabalhávamos. E eu não era o empresário, cuidava apenas do lado musical e artístico.
Produzi os três primeiros discos do Jheremmias, lançamos no mercado, colocamos músicas para tocar em rádios, colocamos clip na MTV, tudo. A música “Milla”, motivo de toda aquela confusão, havia sido gravada pelo Jheremmias no primeiro e no seu terceiro disco. Nas duas vezes ela foi musica de trabalho aqui no Nordeste e nada acontaceu. Ainda me lembro quando fui pessoalmente na Polygram (atualmente Universal Music) apresentar a música “Milla” à gravadora para ser a música de trabalho do terceiro disco do Jheremmias, e ouvi de Max Pierre, diretor artístico na época, que a música não era boa, que não tinha refrão, etc. E assim foi. Trabalhamos à contragosto uma outra música nas rádios.
Um ano se passou e gravei meu CD “Netinho ao Vivo”. Neste CD, além dos meus sucessos até aquele momento, eu regravei três músicas que eram muito tocadas nas micaretas aqui no Nordeste, “We Are The World of Carnaval”, “Um Frevo Novo” e “Milla”. Lembro que, na época, quando consultei Tuca e Manno sobre esta regravação de “Milla” eles vibraram, agradeceram, e ainda brincaram dizendo que iriam ganhar muito dinheiro com a venda do CD.
O problema aconteceu quando o meu CD foi lançado e a música “Milla” estourou nas rádios de todo o Brasil com a minha voz. Penso que foi uma questão de ciúme pois “Milla” já havia tocado nas rádios com o Jheremmias anos antes e nada aconteceu. Não tive culpa disso, ninguém teve. Só para esclarecimento, a música de trabalho desse meu CD “Netinho ao Vivo” em todo o Brasil foi “Menina Linda”. A música “Milla” nunca foi música minha de trabalho. Ela só aconteceu porque um DJ do Rio de Janeiro fez um remix da minha gravação dessa musica e começou a tocá-la no seu programa de rádio. Daí, as boates do Rio começaram a tocá-la espontaneamente, depois outras rádios, e buum!
É pertinente aqui uma explicação. Na época, o meu empresário e sócio Misael Tavares é quem cuidava desse lado comercial e jurídico da nossa empresa e o contrato com o Jheremmias foi feito da seguinte forma: Nós investiríamos na banda e com o tempo, a banda nos pagaria este investimento aos poucos. Um contrato foi assinado com Tuca e Manno e como garantia do negócio, nos foi dada a marca “Jheremmias Não Bata Corner”. O problema todo ocorreu quando, na época que “Milla” estourou nas rádios com a minha voz, a banda Jheremmias queria deixar a nossa empresa e ir para uma outra produtora justamente por causa desse sucesso de “Milla”. Como o investimento que havíamos feito na banda, em torno de U$600,000.00 na época, não havia sido pago conforme rezava o contrato assinado por todos, Misael achou melhor ficar com a marca, já que não receberíamos mais este dinheiro de volta e, depois de todo o trabalho feito, eles estavam indo trabalhar com outras pessoas. Na época eu concordei com Misael pois achei injusto tudo o que estava acontecendo.
O que se seguiu foi uma avalanche de matérias em jornais que denegriam a minha pessoa me acusando de ter gravado “Milla” à revelia dos seus autores. Não culpo Manno ou Tuca por aquilo pois eles estavam apenas ingressando no mercado musical e não sabiam como as coisas ocorriam. Muito foi feito pela produtora que eles passaram a trabalhar que se aproveitou da situação para promover o Jammil e me prejudicar.
Não há nenhuma entrevista, nenhuma resposta minha a qualquer acusação naquela época. Nem em jornais, revistas ou qualquer tipo de meio de comunicação. Me calei completamente, atônito com tudo que acontecia à minha volta. Fiquei à parte daquilo tudo pois sabia que eu não estava errado e que os meninos do Jheremmias estavam sendo usados.
Questões contratuais desse tipo acontecem a todo instante no mundo corporativo e às vezes tomam uma dimensão pública quando os envolvidos são conhecidos ou quando há a presença de interesses escusos.
Paguei um preço muito alto por isso tudo mas acredito no passar do tempo e na verdade.
Anos atrás estive com Manno num jantar e percebemos que não havia nada de estranho entre nós, a não ser o que OS OUTROS haviam criado.
Tudo isso foi um grande aprendizado prá mim. Sou um homem honesto, sempre fui.
Nunca quis prender musica de ninguém e sou contra a venda de música por compositores que tem poucas condições. Acho isso um grande absurdo. Um roubo.
Há dois anos venho devolvendo a edição das músicas de todos os compositores que editaram suas obras na antiga editora que eu tinha com Misael. Com a nossa separação, a editora ficou prá mim e estou devolvendo a edição dessas músicas a todos os autores. Já fiz isso com as canções de Tenison Del Rey, Paulo Vascon, Gerson Guimarães, Anderson Cunha, e outros que abriram suas próprias editoras.
AxéWeb:Você lançou a cantora Gilmelandia, tem uma relação boa com ela? O que houve de fato entre vocês?
Netinho: Gil é minha amiga e uma pessoa muito querida, além de cantora talentosa. Nunca houve nada de errado entre mim e Gil. Eu estive junto à produção dos três primeiros discos da Banda Beijo com Gil, até o “Bate Lata”. Depois disso, me afastei por causa da minha própria carreira e do tempo que resolvi dar em tudo. Com o meu afastamento, Misael seguiu cuidando das coisas de Gil até que eu me afastei juridicamente da MEG, empresa até então formada por mim, Gil e Misael. Na época do meu afastamento da MEG, não quis nada da empresa, deixando tudo para os dois. A partir daí, segui apenas como amigo de Gil, como sou até hoje.
AxéWeb:Mudando de assunto, como avalia a música baiana atual?
Netinho:Vive uma ótima fase, com os artistas buscando boas canções e qualidade em seus trabalhos. É claro que em todo estilo musical, há coisas boas e ruins. E não estamos fora disso.
AxéWeb:Como vai ser o Carnaval 2010?
Netinho: Estarei na quinta feira no Bloco Universitário, na sexta no Alô Inter, e no sábado no Trimix. Tudo na Barra/Ondina. Nos outros dias, domingo, segunda, terça e quarta, farei apresentações fora de Salvador. Estão todos convidados! Faremos um grande Carnaval.
AxéWeb: Fazendo uma auto-análise, o que mudou desde sua estréia no carnaval até o Netinho de hoje?
Netinho: Maturidade. Esta foi a minha grande conquista. E agradeço a tudo o que aconteceu por isso. Os momentos bons, inspiradores, e também os momentos ruins, fonte de grande aprendizado.
AxéWeb:O líder da primeira banda baiana a se apresentar no faustão, um dos maiores puxadores de trio largou tudo para se dedicar a MPB, sumiu, voltou e reconquistou o sucesso novamente, que experiência de vida você teve sobre sua trajetória?
Netinho: Nunca larguei o Axé pela MPB. Foi uma fase de vida muito conturbada prá mim pois não sabia exatamente o que eu queria fazer, diante de tanto cansaço e insatisfação. Apenas dei um tempo e o CD pop que lancei naquele momento, o ‘Outra Versão”, confundiu ainda mais as coisas.
Amo o Axé e também a MPB, reflexo do início da minha carreira cantando nos barzinhos aqui em Salvador. Minha musica é de qualidade e há MPB em muito do meu Axé. É só ouvir os meus discos na íntegra, e não apenas o que toca de meu no rádio.
A experiência absorvida disso tudo me permite dizer: Vivam as suas vidas, sigam sua intuição e o seu coração, sempre tendo como meta a sua felicidade! Se está feliz, então está tudo certo.
Um abraço para todos os internautas que passam aqui no Axé Web!
terça-feira, 15 de setembro de 2009
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